quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

canção das mulheres

CANÇÃO DAS MULHERES
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com a minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza e bom humor.
Que o outro perceba a minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se eu estou apenas cansada o outro não pense logo que eu estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou a sua culpa.
Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde, nem dizendo "Olhe que estou tendo muita paciência com você!"
Que se me entusiasmo com alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre prá mim, por mais tola que lhe pareça.
Que quando sem querer eu digo uma coisa inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha e nem me ridicularize.
Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha atrás de mim reclamando:"Mas que chateação essa sua mania, volta prá cama!"
Que se eu peço um segundo drinque no restaurante, o outro não comente logo: "Pôxa, mais um?"
Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro mesmo assim me ache linda e me admire.
Que o outro - filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - UMA MULHER.
- LYA LUFT

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